QUAL É A CHAVE PARA ENSINAR YOGA PARA CRIANÇAS DE TODAS AS IDADES?
Será que você é um professor ou alguém que convive com as crianças e tem despertado o interesse em ensinar Yoga para elas?
Atualmente, percebemos que o interesse pela Yoga para crianças tem crescido cada vez mais. Há pesquisas que comprovam que a Yoga traz muitos benefícios durante a infância nos mais diversos aspectos da vida. E esses maravilhosos resultados têm encantado as pessoas, que se sentem motivadas a buscar essa prática para os pequenos. Quando eu comecei a planejar uma aula sobre “A chave para ensinar Yoga para crianças” foi bem interessante, porque eu estudei vários materiais, conheci diferentes falas sobre o tema… e não concordei com todas! Eu acredito que nós estamos sempre aprendendo, estamos sempre revendo os nossos posicionamentos e, conforme eu fui construindo essa aula, uma chave ficou muito clara para mim. Então, eu vou apresentar para vocês o que a “Metodologia Cris Pitanga – Amor em Ação” reconhece como sendo essa chave para você ensinar Yoga para crianças.
A chave para mim é o olhar do professor ou daquela pessoa que está trabalhando com a Yoga para crianças. E o que isso significa? Várias situações acontecem quando a pessoa decide atuar nessa área. Algumas vezes, há um chamado interior para conhecer melhor esse ramo da Yoga. Ou, então, profissionais que já convivem com as crianças, como professores, médicos, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, nutricionistas, enfim, profissionais de diferentes especialidades percebem que os recursos das técnicas da Yoga podem ser muito úteis e valiosos para o trabalho deles.
Além disso, nos meus cursos, eu tenho recebido muitas pessoas cujo interesse é levar a Yoga para as crianças da família e, às vezes, o resultado é tão positivo que expandem e começam a atender mais alunos. Outra situação que acontece muito é a seguinte: a pessoa sente que deve levar a Yoga para alguma instituição, como também alguns sentem a vontade de atender crianças em situação de vulnerabilidade. Todos os envolvidos – isso inclui profissionais de diversas áreas, membros da família… – começam a sentir que têm que levar algo diferente e especial para os pequenos vivenciarem. Então, começam a sentir um chamado interno: aprender um conjunto de ferramentas que vai fazer a diferença na vida dos filhos, dos pacientes, dos alunos ou dos clientes com os quais eles trabalham, convivem ou conhecem.
A Yoga infantil tem dois lados bem claros: o lado lúdico, o lado do brincar, do divertimento e o lado da quietude, da suavidade e da doçura. Além da filosofia e de todas as técnicas. Então, o olhar do professor entra em ação, ou seja, ele começa a espiar, seria como se ele abrisse a portinha da Yoga para a criança e ficasse ali, olhando, espiando este universo que se abre.
Conforme vai conhecendo todas essas ferramentas e na medida em que vai ensinando Yoga para as crianças, o professor precisa fazer muitas escolhas. Assim, essa chave, o olhar do professor, é muito importante. Lembro-me de uma das frases de Paramahansa Yogananda, o Mestre que fundou a Self-Realization Fellowship nos Estados Unidos, na Califórnia, quando ele diz: “Cabe aos adultos de hoje elevar a consciência das crianças, conduzindo-as a uma vida equilibrada.”
Eu estou encantada com a quantidade de professores que estão tendo o carinho, o esforço, a dedicação de ampliar esse olhar, de fazer o olhar sobre Yoga para crianças crescer dentro deles. Mas como essas pessoas ampliam seu olhar? Fazendo seus estudos sobre o tema, praticando Yoga semanalmente ou todos os dias, praticando a meditação diariamente, para que possam elevar a consciência e ampliar a sabedoria e é dessa forma que eles conseguem desenvolver um trabalho mais efetivo com as crianças.
Isso porque o trabalho com a Yoga vai além de estudar, é preciso que haja a experiência, porque a Yoga não é dogmática, não basta apenas ler, estudar e falar a respeito. Por isso, não importa há quanto tempo estejamos envolvidos com Yoga, sempre será necessário praticar e estudar, já que estamos sempre aprendendo. Quando continuamos com o interesse de ampliar e intensificar o nosso olhar através da nossa prática iogue e da meditação, vamos conhecendo essa filosofia e os ensinamentos milenares tão sagrados!
Então, se você estava espiando e agora está querendo entrar pela porta da Yoga para crianças, o seu olhar é a chave. Se você está querendo abrir essa porta mais ampla e passar por ela, aprofundando-se neste novo universo, aprender uma metodologia é o caminho. Assim, você é muito bem-vindo para conhecer o curso com a “Metodologia Cris Pitanga – Amor em Ação”. Nesta formação, trabalhamos a união do aspecto filosófico com o prático, com o lúdico, com o brincar, apresentamos ferramentas que encantam e engajam a criança nas aulas.
Vou contar uma história que se passou na época em eu estava trabalhando em uma escola que nós fundamos em São Paulo, a Arte de Ser. Certa vez, um menino e sua família foram conhecer a escola. E é muito gostoso quando você trabalha como pedagoga e vê chegar uma família interessada naquela metodologia inovadora, em que as crianças meditam, praticam Yoga e que tem toda uma rotina diferente e uma equipe que é muito cuidadosa. Então, a mãe se encantou e, na hora que nós sentamos para conversar, o menino deu um tapa no meu rosto. Só que eu sabia o que estava acontecendo com ele, eu sabia porque eles estavam tentando mudá-lo de escola, eu sabia que aquele tapa era só para dizer: “Olha, eu não estou aguentando o que está acontecendo comigo, eu não estou aguentando ficar naquele lugar em que estou, eu quero mudar”. Como a criança não sabe dizer, não sabe nem mesmo exatamente o que está sentindo, então ela utiliza o seu corpo e reações diversas, que, nesse caso, foi um tapa no meu rosto. Naquele momento, contei uma história, dizendo para ele que dói quando a gente leva um tapa e, ao mesmo tempo, eu o acolhi com amor. Essa criança ficou conosco – e foi maravilhoso!
Por isso, outro ponto muito importante para intensificar o nosso olhar é percebermos as necessidades das crianças, saber o que está acontecendo com elas, conhecer o entorno e a família delas. Devemos olhar além do comportamento da criança. Nesse exemplo do menino e de outras crianças que cruzarem o nosso caminho, temos sempre que olhar além e nos perguntar: O que mais essa criança tem? Será que ela só tem comportamentos ruins, já que bateu no rosto do pedagogo? Não, o menino não é essa pessoa que bateu no rosto do pedagogo. Ele é muito mais que isso! Ou seja, precisamos conhecer quem é a criança. Nesse caso,por exemplo, temos que saber o que está por trás desse tapa e quem realmente é essa criança.
No tempo em que nós nos relacionamos com esse menino, conhecemos uma criança que estava com as emoções a todo vapor, uma criança cheia de criatividade, uma criança que gostava de coisas diferentes. Foi tão linda a convivência com esse garoto, pois, ao conhecê-lo, descobrimos que ele tem o mundo dele, com várias características maravilhosas. Uma delas é que ele parecia um cientista! Que presente ter tido a oportunidade de conhecê-lo mais e de ter momentos muito felizes do lado dele!
Assim, quando estamos abrindo a porta para entrar na Yoga, temos que conhecer as faixas etárias, conhecer como as crianças funcionam, conhecê-las de verdade, e não só o que está escrito nos livros. É extremamente importante estudar essas faixas etárias, mas nós precisamos observar como estão as crianças com as quais trabalhamos Nós precisamos nos apropriar de como elas se comportam, quando devemos acolher, quando devemos dar limite, quando devemos dar colo, quando devemos abraçar, quando devemos pedir ajuda, quando devemos pedir desculpas… Dessa forma, vamos conhecendo as crianças – e o nosso olhar pode se ampliar ainda mais!
Tenho oferecido trabalhos de Yoga em família. Antes, eu ministrava apenas workshops, mas agora, desde que percebi a importância, eu estou vivenciando o mundo das aulas de Yoga em família. Como estou mudando e intensificando o meu olhar nessa área da Yoga infantil! A partir dessa experiência, começamos a perceber:
“Ah, essa família é assim, essa criança é assim…” Com essas vivências, nós gradualmente aprofundamos o nosso olhar para nos tornarmos cada vez mais precisos, mais assertivos. Há uma frase que diz: “Nós devemos focar no que é positivo na criança, no que as crianças fazem de certo e não apenas no que elas fazem de errado, no que elas fazem de ruim, no que elas fazem de negativo… Porque assim nós nos aproximamos e nos conectamos mais com elas.” Por isso, eu volto a enfatizar a importância de ampliar o olhar para conhecer melhor o entorno da criança.
Quando eu estava preparando a aula sobre este tema, fiquei intrigada por vários dias, pensando: “Mas eu não concordo com tudo o que estão falando! Que a chave da Yoga é o brincar, que a chave da Yoga é a história, que a chave da Yoga é a música, que a chave da Yoga é o bom planejamento… Para mim, não é nada disso.” E eu sentia que entendia isso de uma outra forma, mas não sabia nomear – eu estava igual às crianças quando não sabem qual é a emoção que elas estão sentindo. Aí, foi muito legal porque a resposta veio claramente para mim, como uma intuição, dentro do meu coração: “Gente, a chave é o meu olhar!”
Nós olhamos para as histórias, para as músicas, para as atividades lúdicas, para as experiências, para uma série de coisas bacanas que podemos fazer na Yoga para crianças, mas nós não ficamos espiando e fazendo de qualquer jeito. Nós fazemos com que esse olhar cresça mais e mais, analisando: “O que realmente eu vou usar? Quando eu vou usar? Agora eu preciso brincar ou as crianças estão sedentas para se acalmar, para relaxar? Aqui eu acho que tenho que brincar, que tenho que me divertir junto… aqui eu sinto e entendo que elas precisam rir… aqui eu percebo que eu tenho que falar da filosofia, elas são profundas, elas querem ir fundo na filosofia… aqui percebo que elas querem o silêncio e a quietude!”
Uma vez, eu estava dando aulas de meditação para crianças em um lugar onde vinham pessoas de vários outros estados para ter aulas. E aí eu tive um aluno que não entrou na sala, e nós permitimos. Os pais estavam querendo que ele entrasse, mas eu falei: “Não, deixa ele aí fora, deixa ele espiar.” Nestes lugares, nós trabalhamos muito o respeito e a disciplina, mas ele não atrapalhou em nada e ficou olhando tudo o que a gente fazia pelo buraquinho da janela. E daí, no final, ele se aproximou um pouquinho e depois ficou grudado comigo. Ele era bem novinho, mas começou a me fazer perguntas extremamente metafísicas. E eu falei: “Meu amor, eu não sei responder. Vamos pegar o livro, que eu sei onde tem essas respostas.” Pegamos o livro e fomos pesquisar as respostas! Neste dia, eu percebi que ele foi acolhido por espiar, ele foi acolhido mesmo tendo participado somente um pouquinho da aula e também ele foi acolhido depois da aula quando ficou sentado debaixo de uma mangueira lendo um livro com a professora que não sabia responder suas perguntas. Então, há momentos em que as crianças também podem interferir na escolha das nossas ferramentas.
Outras vezes, podemos pensar: “Ah, esta história é maravilhosa!” Aí vamos usar, mas as crianças ficam sem interesse… Nessas horas, podemos parar e conversar: “Estou vendo que vocês não estão curtindo, vamos falar sobre isso?” E, então, voltamos atrás e mudamos tudo.
A chave de nosso olhar nos ajuda a ir além, pois você aceita, muda, acolhe e escolhe ferramentas que melhorem sua conexão com as crianças e que as motive a participar da aula, para que elas possam descobrir a coragem que existe nelas, para que possam descobrir a gentileza que existe nelas, para que possam descobrir que podem ajudar seus pais, seus amigos e os seus professores… Para que possam descobrir que, em essência, elas são a paz, o amor e a alegria. Então, eu gostaria de dizer para vocês que, para mim, a grande chave é o professor. E, para mim, as outras coisas são ferramentas. Mas não importa se são ferramentas ou se são chaves, o importante é estarmos abertos para construir a aula. Seja uma aula entre mãe e filho, seja uma aula entre crianças ou jovens, seja uma aula para uma criança individualmente, o importante é que nós estejamos abertos para construirmos juntos. E que estejamos abertos para planejar, mesmo que o que estejamos construindo tenha que ser destruído e reconstruído. Que vocês possam aproveitar essa reflexão que, para mim, foi muito profunda. Chegar a essas conclusões foi um despertar. Eu sinto que isso foi algo que me veio como um presente: entender que a chave é o meu olhar, é o seu olhar, é o nosso olhar, o olhar de pessoas que querem adentrar o mundo da criança, assim, a chave é você, o professor, com o seu olhar sempre e sempre muito atento!!!
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